o ratos não param de piar,
vão em dupla fazendo com que as caixas e gavetas
sejam habitadas particularmente
na úmida cozinha.
os armários abrigam
temporariamente os ratos,
daqui não consigo vê-los.
escuto o piar dos ratos.
estou escrevendo uma resenha de um texto.
minhas mãos tremem, em pouco tempo
devo dar continuidade a resenha antes que o prazo
se esgote.
os ratos não param de piar.
as mãos dele tremem.
ele sente um enorme medo de alguma doença degenerativa
ao lembrar que uma vez,
mal conseguindo responder a prova,
tremeu repetidamente enquanto analisava
contos machadianos.
os ratos não param de piar.
agora anda observando os quartos vazios
para procurar os ratos.
lá encontra apenas vestígios sintomáticos,
memórias exatas e períodos momentâneos nas gavetas.
olhava para o relógio com muito medo.
sinto medo, muito medo.
a mãe grava um áudio de alguns segundos dizendo:
- você precisa se acalmar, John.
estava sozinho, recuperando-se dos verborrágicos
sintomas que o faziam perder a fala, mal conseguindo reagir às cartas
de Ofélia, recebidas há dias, guardadas na gaveta.
os ratos não param de piar.
as cartas diziam quais eram
os próximos atos a serem seguidos:
mantenha cautela, seja generoso, evite brigas.
momentos difíceis.
o cansaço dos dias disputava presença entre ambos.
encontraram-se desconfiados.
- Já fazem muitos dias não anoto absolutamente nada no diário.
os ratos não param de piar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário