domingo, 22 de abril de 2018

the secret cause

a terapia começou de uma tradição
autobiográfica de identidade:
chegou a hora de indagarmos
“what’s new”
na onda verossímil de adultérios
e insinuações amorosas,
onde o jogo do descontente está
mais próximo das possibilidades.
nada a mais para complicar o lance
de ambos em escala vertical do fio de nylon. 
qual o necessário para marcarmos
nosso encontro direto?
isso tudo é relação, baby.
esta é a poesia que impõe
desejo, saca?
são pecados via whitman.
logo, “what’s new” para que se complique
ainda mais,
amor, nação,
sobretudo traição,
até acabar com todos esses
fatos narrados

Felipe Batista


para Jorge

jorge eu desconheço. talvez ele seja uma multidão de sentimentos, explosão de repúdio ou um par de pernas deixadas para trás. jorge talvez como uma casa, como se fosse a casa de paredes decepadas e telhados empoeirados, sustentando as residências dos insetos que percorriam seu corpo durante a noite. jorge, uma mentira. jorge é querer responder com um sinônimo o nome que tanto anuncia meus sentidos mais íntimos e políticos. uma guerra civil que só a subjetividade do meu silêncio permite a elaboração das respostas paras as páginas que escrevi com o pensamento em jorge. jorge é aquele que pouco conversa, mas surta quando ofélia lhe oferece um banho. ama a ideia de vê-la nua e justifica interesses com chicletes trocados de boca em boca, mastigados, quando a vontade era a de mastigar os cômodos espaços das línguas, salivando vinhos e cigarros durante a madrugada. eu prefiro chá, ofélia cochichou uma vez que disso ele não gosta. jorge, uma incógnita. talvez o cansativo e vergonhoso número de mensagens trocadas jamais conseguirão ordenar o real significado das palavras que escrevo. escrevo para você, jorge, para você.

"cartas à ofélia"
22.04.18

quinta-feira, 19 de abril de 2018

aos 21

É tempo para tocarmos o caos dos pássaros antes de avançarem os próximos caminhos. Ao final, há uma advertência que diz: perigo, lugar habitado por selvagens. 21 bichos repercutem no estômago do poeta sinestésico, agora que todos já foram embora sem que dissessem nenhuma palavra. Logo agora que eu estava amando as descrições de Edu sobre Buenos Aires e as praças sonâmbulas. Não posso esquecer nunca de lembrar à mamãe sobre os comprimidos para enjoo que devo tomar durante as próximas horas, foram tantas as informações durante o reencontro que de fato não demorarei para vomitar todas as conversas indesejáveis em uma violenta histeria. Vivo os minutos seguintes na estratégia de perceber todos os convites mudados. É preciso mudar os convites, mudar a posição de todos eles para que os convidados mudem de uma vez por todas as conversas, depois de terem passado a tarde bebericando uma bebida que, rígidos, perguntavam-se se viam tudo ou consumiam uma miragem. Pulo uma nova casa na crise, agora passo a completar um tempo perdido sem memória para registrar neste caderno. É meu aniversário, estou com todas as mensagens, tornando-as líquidas, para assim esquecer-me
de mudar
             todos os convites.

Felipe Batista
"Maremoto"
16.04.2018

área de improviso

será que você não percebe?
é que não gosto de sofrer.

Felipe Batista
"Maremoto"
19.04.2018