sábado, 22 de setembro de 2018

dias de abandono

           Um hoje amanhã quase irremediável. Escreveu três parágrafos e deixou que o astrólogo se responsabilizasse pelo resto. 5 horas corrigindo 500 textos na fria biblioteca, Whitman do lado diagnosticando cada medo de erro, errar a linha, a vírgula, errar a correção. A mão que segura o lápis, mão esquerda, tremendo. Por favor não, não me faça perguntas comprometedoras, sou discreto até que se prove o contrário, até que se fale o contrário, até me tirar a blusa e arranhar as costas em pleno exercício de amor e ódio e andropausa. O texto não pode me esperar, uma vez que ultimamente venho pensando muito em Breno, no fingimento daquele corpo que assumia a comoção. 3 casas são vistas durante seu percurso, olhando para a feridinha no joelho, vai indo de encontro com o dedo indicador para excitar o local avermelhado, o sangue escorrendo cada vez mais como uma boa notícia.
           Conversando, atrofiando os dedos da mão esquerda, dificuldade de vomitar, banheiro, cama sem colchão, a falta d'água, lama. Não consigo telefonar, mamãe ligando loucamente, lembro de dizer que voltaria mais cedo. A bolsa relicário esparramada no colchão, reunir tudo o mais rápido possível antes que a ânsia se consuma, me fazendo perder mais tempo. Chamar um táxi e lembrar: jamais me demorar neste lugar.

césar vallejo

Olhando o telhado
até ver todas as telhas
desaparecem
as folhas, completas,
pendendo secas
no chão do quarto

Imundícies no pescoço
assumindo a precariedade
dos lábios inferiores
e a notícia
que deixou todos abalados

Confesso abaixo
o bicho que me castigou
durante todo esse tempo
as linhas da face
recortadas pelo tumulto
do silêncio
que é escrever
um poema

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

de três meses o que consigo lembrar

enquanto ouvíamos algum disco eu e você lembramos suficientemente entorpecidos ao menos tentamos lembrar a todo custo das aulas de literatura em 2013 quando o professor nos confessou amar as horas dedicadas a escrever poemas com letra de forma completamente nu em seu quarto nu sem roupa alguma sem anúncio algum hoje escrevendo penso que faço exatamente a mesma coisa ainda que naturalmente e longe de qualquer propósito é como escrever um romance inteiro usando caneta esferográfica cor preta (jamais azul) e somente algumas anotações iniciais à lápis Édith ao fundo fazendo treinar o meu francês sem piedade alguma preciosos tempos digerindo o almoço lendo Murakami e botando pra quebrar esqueci a última vez que vi Silas sorte a minha amo Paulo acho o erro mais explícito já cometido G. nunca entende o que escrevo ela me diz que pareço um russo sem pudor próximo - ou quase nada - da homossexualidade assumi minha sexualidade ouvido jazz i want a big butter and egg man a playlist do Murakami toda a sua coleção de discos reunida thanks Bobby.